quarta-feira, 15 de agosto de 2012


O Quereres
Maria Gadú


Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres leblon, sou pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em ti é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim
Sem Fantasia
(Chico Buarque)



Vem, meu menino vadio 
Vem, sem mentir pra você 
Vem, mas vem sem fantasia 
Que da noite pro dia 
Você não vai crescer 
Vem, por favor não evites 
Meu amor, meus convites 
Minha dor, meus apelos 
Vou te envolver nos cabelos 
Vem perder-te em meus braços 
Pelo amor de Deus 
Vem que eu te quero fraco 
Vem que eu te quero tolo 
Vem que eu te quero todo meu 

Ah, eu quero te dizer 
Que o instante de te ver 
Custou tanto penar 
Não vou me arrepender 
Só vim te convencer 
Que eu vim pra não morrer 
De tanto te esperar 
Eu quero te contar 
Das chuvas que apanhei 
Das noites que varei 
No escuro a te buscar 
Eu quero te mostrar 
As marcas que ganhei 
Nas lutas contra o rei 
Nas discussões com Deus 
E agora que cheguei 
Eu quero a recompensa 
Eu quero a prenda imensa 
Dos carinhos teus